Por Henrique Bertosso, Diretor da Universidade de Passo Fundo – Campus Casca
O Brasil atravessa um processo silencioso, mas profundo: o envelhecimento progressivo da sua população. Segundo as mais recentes projeções do IBGE, divulgadas em agosto de 2024, a população brasileira deixará de crescer por volta de 2041, atingindo seu ápice em 220,4 milhões de habitantes. A partir de então, inicia-se um declínio demográfico que deve resultar em cerca de 199,2 milhões de pessoas até 2070. Mais do que números, esse movimento altera de forma estrutural os rumos do país.

A redução no número de nascimentos e o aumento da expectativa de vida configuram uma nova realidade etária. Em 2000, a idade média do brasileiro era de 28,3 anos; em 2023, passou para 35,5; e em 2070, a estimativa é de 48,4 anos. A antiga pirâmide populacional, que abrigava uma base larga de jovens, já não descreve o Brasil contemporâneo. A imagem que nos representa agora é a de um país que amadurece e, em ritmo acelerado, envelhece.
No caso do Rio Grande do Sul, essa dinâmica é ainda mais evidente. Em 2000, 11,5% da população gaúcha tinha 60 anos ou mais. Em 2022, esse percentual chegou a 20,7%. As projeções indicam que, em 2070, cerca de 40% dos habitantes do estado estarão nessa faixa etária. Em outras palavras, o Rio Grande do Sul está se tornando, cada vez mais, um estado de população predominantemente idosa.
Esse fenômeno, embora previsível, exige transformações profundas na organização da sociedade, especialmente no mundo do trabalho. Trabalhar até os 65 ou 70 anos tende a se tornar regra, e não exceção. A questão central, no entanto, não é apenas a idade cronológica, mas as condições em que esse prolongamento da vida laboral ocorrerá.
É necessário indagar se o país, e especialmente suas regiões mais envelhecidas, está preparado para oferecer condições de trabalho dignas e adequadas aos trabalhadores mais velhos. O prolongamento da vida produtiva não pode ser apenas uma resposta fiscal à crise da previdência social. Deve vir acompanhado de políticas públicas que promovam ambientes laborais mais acessíveis, oportunidades de qualificação permanente, combate ao etarismo e reconhecimento do valor da experiência.
Além disso, é fundamental reconhecer a desigualdade presente nesse processo. Muitos brasileiros e brasileiras chegam à velhice após décadas de trabalho informal, com pouca ou nenhuma proteção previdenciária. Para essa parcela significativa da população, o envelhecimento não significa apenas um avanço da idade, mas a continuidade de uma trajetória marcada pela insegurança e pela falta de direitos. No campo, no comércio, nos serviços ou no cuidado de pessoas, o trabalho extenuante, invisível e sem reconhecimento tem deixado marcas que persistem na velhice.
O desafio, portanto, é duplo: adaptar as estruturas do trabalho à nova composição etária da população e enfrentar, com seriedade, as desigualdades históricas que tornam o envelhecer um processo tão distinto entre os brasileiros. O interior do país, onde a migração dos jovens é intensa e o protagonismo dos mais velhos é cada vez maior, pode ser um espaço privilegiado de reflexão sobre esse futuro que já se inicia.
O Brasil, e o Rio Grande do Sul em particular, precisam avançar para além do diagnóstico. Envelhecer é uma conquista civilizatória, mas será também um teste à nossa capacidade de reorganizar o mundo do trabalho com justiça, dignidade e visão de longo prazo. O tempo da juventude populacional está chegando ao fim. O tempo da maturidade exige sabedoria.
