Por Henrique Bertosso, Diretor da Universidade de Passo Fundo – Campus Casca
Em um mundo cada vez mais pautado pela busca incessante pela juventude, envelhecer parece ser, para muitos, uma palavra silenciosa e desconfortável. O etarismo, ou a discriminação pela idade, é uma forma de preconceito que, apesar de frequentemente invisível, marca profundamente a vida de milhões de brasileiros. Embora a velhice seja uma conquista civilizatória, ela se torna, em diversos aspectos, um obstáculo a ser superado, tanto no mercado de trabalho quanto nas interações cotidianas. Mas, afinal, quem decide quando alguém é “velho demais”?

No cenário atual, em que a juventude é celebrada como sinônimo de inovação, dinamismo e beleza, as pessoas mais velhas encontram-se muitas vezes à margem do debate sobre futuro e progresso. O culto à juventude, amplificado pelas redes sociais, pela mídia e pelas políticas de consumo, contribui para a desvalorização da experiência, do conhecimento acumulado ao longo dos anos e da contribuição dos mais velhos para a sociedade. Esse fenômeno não é apenas uma questão estética, mas um verdadeiro problema social e econômico. Em um país como o Brasil, onde a população envelhece rapidamente, a sociedade enfrenta o dilema de como incluir os mais velhos sem reduzir a riqueza que eles carregam.
A primeira barreira que muitos enfrentam é a do mercado de trabalho. A discriminação etária nas empresas é uma realidade silenciosa, que se manifesta de maneira sutil, mas profunda. Em muitas entrevistas de emprego, o candidato mais velho é frequentemente preterido por sua suposta falta de “agilidade”, “inovação” ou “adaptabilidade”, qualidades geralmente atribuídas aos mais jovens. Esta visão, fundada em estereótipos, ignora que a experiência prática, a maturidade emocional e o conhecimento adquirido ao longo da vida são recursos inestimáveis. Trabalhar até a velhice não deve ser visto como uma exceção, mas como uma escolha viável e justa para aqueles que, por diversas razões, não podem ou não desejam se aposentar.
Porém, a exclusão dos mais velhos não é limitada ao mercado de trabalho. O etarismo também permeia o imaginário social, onde a velhice é muitas vezes associada à fraqueza, à solidão e à incapacidade. No Brasil, a mídia frequentemente exalta padrões de beleza e produtividade que marginalizam a imagem do idoso. Filmes, propagandas e redes sociais reforçam a ideia de que, para ser relevante, é necessário estar jovem e ativo. Isso cria um ciclo vicioso, no qual as pessoas mais velhas se veem forçadas a se adaptar a esse modelo ou, então, a serem invisibilizadas.
Essa exclusão vai além das grandes metrópoles. No interior, onde as relações comunitárias são mais próximas e as tradições mais fortemente mantidas, o idoso ainda é respeitado em diversos aspectos, mas também é muitas vezes relegado a papéis secundários, como o “conselheiro” ou o “guardião da memória”, deixando de ser protagonista das mudanças sociais e políticas. A experiência acumulada ao longo dos anos deveria ser uma base para a inovação, e não um peso. Aqui, também, a percepção de que “ninguém mais precisa ouvir o idoso” se infiltra de forma velada, gerando um ciclo de marginalização que empobrece a própria dinâmica comunitária.
A superação desse etarismo exige, antes de tudo, uma mudança cultural significativa. Devemos começar a entender que a experiência não deve ser tratada como um fardo, mas como um recurso valioso. O envelhecimento, longe de ser sinônimo de inatividade, deve ser encarado como uma etapa plena, onde o trabalhador, o cidadão, o artista ou o líder continua a contribuir de maneira única para o bem coletivo. A sociedade precisa aceitar que a diversidade etária no mercado de trabalho e nas redes sociais não apenas enriquece as relações, mas fortalece o desenvolvimento humano e social.
O etarismo não é apenas um problema individual, mas uma questão estrutural, que precisa ser enfrentada em todas as esferas da vida pública e privada. O Brasil, e especialmente o Rio Grande do Sul, com seu envelhecimento acelerado, tem diante de si o desafio de promover uma verdadeira inclusão geracional. Isso passa pela criação de políticas públicas que incentivem a permanência no mercado de trabalho de pessoas mais velhas, pela reavaliação de estereótipos e pela desconstrução de uma visão de produtividade que ignora as possibilidades do envelhecimento ativo.
Envelhecer não é um problema. O problema é a forma como tratamos o envelhecimento. Devemos, como sociedade, abraçar o envelhecimento como uma possibilidade de aprendizado contínuo e contribuição irrestrita. O futuro, ao contrário do que muitos pensam, é mais grisalho do que imaginamos. E será mais justo se aprendermos a respeitar todas as idades.
